Os cristãos e a sexualidade – Parte 3
No início do ano recebi uma notícia que me fez pular de alegria: a de que começaria o projeto Casa de Isabel! Esse é um projeto pioneiro de mentoria das esposas dos seminaristas, promovido pela capelania do Seminário Presbiteriano do Rio de Janeiro, a fim de alcançar as futuras esposas de pastores. Alguns meses antes dessa notícia chegar, eu orava ao Senhor pelas esposas de pastores, pedindo que, de alguma forma, elas recebessem cuidados pastorais. Por causa da minha experiência prévia como missionária, eu entendo que a falta de mentoria de líderes ameaça a prosperidade de qualquer ministério cristão. Quando um membro do corpo sofre, todos sofremos. Mas quando um líder sofre e a sua ferida se torna pública, os efeitos são catastróficos. Por isso, também, somos alertados em Tiago 3:1:
Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor.
Todos estamos sujeitos à falsa narrativa de que o pecado sexual é um tipo especial de transgressão, mas os líderes cristãos estão mais vulneráveis a essa mentira porque somos justamente as pessoas que são procuradas quando outros cristãos precisam de ajuda, conselho e cura na área sexual. Por isso, somos tentados a pensar que, se somos aqueles que ajudam os sexualmente despedaçados (ELES), devemos ter a nossa sexualidade impecável e sermos os exemplos (NÓS), preferindo mascarar as nossas angústias e anseios sexuais. E temos mesmo que ser o exemplo, mas não apenas no exterior. Devemos ser os primeiros a tirar as nossas máscaras e admitir as nossas limitações diante de Deus, para nós mesmos e para pessoas próximas em quem decidimos confiar.
Paulo escreveu a Timóteo:
Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. (1 Tm 1.15)
Dave Harvey parafraseia Paulo em Quando pecadores dizem SIM: “Olha, conheço o meu pecado. E o que tenho visto em meu próprio coração é tenebroso e terrível; é orgulhoso, egoísta, auto enaltecedor e se rebela contra Deus de um modo mais consistente e regular do que já vi no coração de qualquer outra pessoa. Até onde posso perceber, eu sou o maior pecador que conheço”.
Em Os cristãos e a sexualidade Parte 1, eu contei a vocês sobre o vício em fantasias sexuais que surgiu no início do meu casamento. Hoje, eu posso me alegrar e testemunhar que esse pecado não me domina mais. O primeiro passo em direção à cura foi quando confessei ao meu marido o que se passava comigo. Foi um dos dias mais difíceis da minha vida! Naquela ocasião, me senti uma completa derrotada, mas hoje eu percebo que aquele foi um dia de vitória:
Eu lhes digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se”. Lucas 15:7
No livro Doing Member Care Well (Cuidado Integral do Missionário), organizado por Kelly O’Donnell, Ken Williams trata da pureza sexual dos missionários no capítulo 24. Ele afirma o seguinte:
Pode ser bem difícil confessar seus pecados uns aos outros e orar uns pelos outros (Tiago 5:16). Mesmo assim, cada um de nós precisa fazer isso regularmente. Nada será capaz de fazer com que uma atração ilícita ou fantasia se despedace mais do que compartilhá-la com amigos de oração.
(tradução livre)
Gostaria de esclarecer que não acredito que devemos confessar cada pensamento impuro ao nosso cônjuge, pois isso pode gerar alguns problemas desnecessários no seu casamento. Porém, se você tem caído em tentação sexual de forma regular, traga o seu pecado à luz! Não se esconda. Sem contar que o envolvimento do cônjuge é imprescindível na luta contra pecados sexuais persistentes. Outra consideração importante é que, ao procurar alguém para prestar contas regularmente, quer você seja casado ou não, faça isso com alguém do mesmo sexo: homem com homem e mulher com mulher. Nosso coração é enganoso. Mesmo que tenhamos a mais nobre das intenções, ficamos extremamente vulneráveis no aconselhamento com pessoas do sexo oposto.
Apesar da minha confissão, o problema não desapareceu porque me abri e pedi ajuda. Às vezes isso acontece. Eu mesma tenho testemunhos de que, no momento exato em que confessei um pecado, fui curada e segui em frente imediatamente. Mas, não dessa vez. Vícios são vencidos um passo de cada vez, e com recaídas. Deus estava usando o casamento e minha descoberta sexual para me santificar. Ele usou minha fraqueza para mostrar o que havia no meu coração. Mas, por favor, não pensem que Deus me fez pecar! (Tiago 1: 13-16). Pra começar, eu estava colhendo os frutos dos vários anos de sexualidade moldada pela sociedade. A falta de acompanhamento deixou minha mente e emoções suscetíveis às minhas próprias idolatrias. Porém, a graça de Deus foi me educando, um pouco de cada vez, desconstruindo várias mentiras em que eu acreditava sobre Deus, sobre mim mesma, sobre o casamento e sobre a sexualidade, e substituindo-as pelas verdades Dele. E, a cada nova fase da minha vida, casamento e ministério, Deus me revela áreas da minha sexualidade que precisam ser restauradas, a fim de que eu reflita a imagem perfeita da Noiva de Cristo, até chegar ao Céu! Leia o texto Refletindo a Imagem.
Esse breve testemunho nos leva a outras duas questões: Quem pastoreia os líderes? E, ainda, Como saber se um líder está apto a liderar devido a alguma dificuldade sexual? Um dos motivos pelo qual os líderes não confessam que precisam de ajuda nessa área é justamente o medo de serem depostos de suas posições de liderança. Entretanto, se viver nossa sexualidade de forma íntegra fosse um pré-requisito para estarmos no ministério, nenhum de nós estaríamos aptos! Mas isso não significa que a nossa sexualidade não importa! O que nos desqualifica para um ministério eficiente é quando não estamos caminhando em comunhão com Jesus. Então, o líder que diz: “Eu tenho tudo sob controle, eu não tenho nenhum pecado, outras pessoas é que precisam de ajuda”, está em zona de perigo.
Em nível organizacional, a Igreja brasileira está avançando lentamente na área de mentoria com novos ministérios que surgem nas denominações evangélicas e instituições para eclesiásticas. Em nível individual, os líderes precisam tomar para si a responsabilidade, em oração diligente e busca constante, de encontrar uma ou mais pessoas para prestar contas regularmente, sem fugir dos assuntos sexuais. Se nos isolarmos por muito tempo, um dia será tarde demais e, de fato, teremos que nos afastar do ministério para nos recompor, ou seremos forçados a nos afastar por causa de um escândalo. Quem tem liberdade de fazer perguntas difíceis a você? A quem você recorre quando percebe que está vulnerável? Deus nos chama a caminhar em integridade, apesar de lutarmos contra diferentes tentações, e diferentes formas de limitações. E só conseguiremos ajudar outras pessoas enquanto submetermos a nossa sexualidade à transformação do Evangelho. Porque “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (Tiago 4:6).
Lidere pela graça!