Privacidade ou Exposição – Eis a Questão
Quando meu filho tinha dois anos, eu e meu esposo recebemos a notícia de que ele tinha vários sinais de TEA (Transtorno do Espectro Autista), e fomos aconselhados pela psicopedagoga da escola a procurar profissionais capacitados a fim de fazer uma avaliação. Uma dos profissionais que acompanhavam o Kyle na época disse que não deveríamos divulgar a notícia até que tivéssemos certeza do diagnóstico, para não sofrermos preconceito. Não demorou muito e chegamos a conclusão de que precisávamos nos expor a fim de receber ajuda. Alguns meses depois de contarmos às pessoas mais próximas, já havíamos recebido ajuda, mas também havíamos passado por situações difíceis que não me fizeram bem. Então, me isolei novamente. Mais alguns meses se passaram e recebi uma clara direção do Espírito Santo de que deveria compartilhar publicamente a recente experiência da nossa família, a fim de abençoar outras famílias que estavam passando pelo mesmo que passamos um ano antes.
Nossa vida é tecida por momentos que exigem privacidade, e momentos em que precisamos nos expor, seja para receber ajuda, ou para ajudar aos outros.
Protegemos a nossa privacidade porque ela nos traz segurança, conforto e nos sentimos no controle. Através da privacidade cumprimos o propósito de Deus e o glorificamos. Mas há contextos em que a privacidade, ao invés de nos proteger, nos prejudica, não glorifica a Deus, e nos impede de cumprir nossa parte no avanço do reino de Deus.
Filipenses 2:5-11 nos mostra que Jesus abriu mão da sua privacidade e se tornou vulnerável por amor à humanidade. Ao vir ao mundo, Ele ficou desprotegido, exposto e dependente de outras pessoas. Não é isso que a falta de privacidade faz com a gente? Perdemos o controle. Entretanto, Jesus precisava dessa exposição para cumprir sua missão. Desde o início, Deus orquestrou a vida de Jesus com episódios privados, a começar pela sua concepção. O anjo só contou a novidade para Maria. Depois, José entrou para o clube. Houve mais privacidade quando Maria foi ficar com sua prima Isabel. Jesus nasceu na privacidade de outra cidade. Que linda proteção nosso Salvador recebeu enquanto era tão vulnerável como um bebezinho! Entretanto, Jesus não podia ficar no modo “privado” para sempre. Ele tinha um propósito a cumprir. Então, a narrativa bíblica nos conta que aos doze anos ele se expôs entre os mestres de Jerusalém na festa da Páscoa. A vida de Jesus, em geral, foi bem reservada. Fazia parte do plano de Deus que Ele não se tornasse um pop star enquanto crescia. Todavia, a hora chegou e Jesus saiu da toca, da segurança e anonimato de uma cidadezinha. O Espírito o levou ao deserto para ser tentado por Satanás, e, logo depois, Jesus começou a se expor, assim como a mensagem do Reino. As curas e milagres foram aumentando. O ministério e toda a sua vida era pública. Será? Não, nem toda. Mesmo em seu ministério público Jesus precisou se preservar. Ele tinha momentos a sós com seus discípulos. E, dentre os discípulos, ele era mais íntimo de três. Ele tinha momentos a sós com Deus. Ele fugiu de multidões, de seus discípulos, e fugiu de um lugar para o outro. Houve vezes em que fugiu de argumentos e dava um perdido nos seus opositores. O ministério de Jesus foi marcado pela alternância de momentos de privacidade e de exposição.
Enfim, Jesus foi humilhado publicamente, argumentou abertamente, sofreu aos olhos de todos e ficou completamente vulnerável na cruz. Jesus renunciou sua privacidade por amor a nós! E também precisamos ser liderados pelo Espírito, a fim de glorificarmos ao Pai através da nossa privacidade, ou da falta dela.