Meu Setembro Mais Amarelo
Vamos começar falando de fevereiro? Gostaria de dar uma cor a este mês, aquele em que meu corpo e mente desligaram após um susto que levei no meio da rua. Eu já estava desconfiada de que estava com depressão, mas não sabia o que fazer com aquela desconfiança. Então, três dias após eu passar por um episódio de burnout, estávamos sentados, prontos para jantar, e eu mal conseguia mastigar a comida, quando um grito sussurrou dos meus lábios suavemente ao Orivaldo, meu marido: Não consigo comer. Não estou bem. Tem alguma coisa errada comigo. Eu preciso procurar um psiquiatra. Ouvir minha própria voz dizendo aquelas palavras foi…eu mal tinha força física para pronunciá-las. Falei. Quicando. Saiu. Palavra. Por. Palavra. E cada uma delas foi um marco.
Assim que o psiquiatra analisou o resultado do meu exame, enquanto ele registrava algo na minha ficha médica no computador, eu o questionei, cheia de curiosidade: O que é isso? O que está acontecendo comigo? Ele respondeu: Você está com depressão severa. Naquela frase a única palavra que despertou o meu interesse foi SEVERA. Eu achava que estava com uma depressão bem de levinha. Continuei: Doutor, mas como você sabe? Ele apontou e me respondeu: Esse exame aqui me mostra como o seu cérebro está bagunçado. Pensei comigo: Ah, tá, então é por isso que minha vida está uma bagunça! Meu cérebro está bagunçado!! E continuei fazendo outros exames que confirmavam o pré-diagnóstico. Vocês sabiam que podemos descobrir num exame de sangue como está a situação dos neurotransmissores no nosso cérebro? Pois é, eu nunca tinha ouvido falar disso, e achei o máximo. Descobri a Biorressonância e a Neuromodulação, e estudei sobre antidepressivos, e conversei muito sobre o assunto com pessoas que já passaram ou passam pelo que estou passando, e tenho aprendido muito com elas. Já são seis meses de tratamento psiquiátrico e um mês de acompanhamento psicológico!
Sobre os últimos meses, eu conto quando estiver pronta, entretanto posso dizer que tem sido meses de muita informação. E acabei de escrever a palavra que mais me interessa nesse texto, então vou repeti-la: INFORMAÇÃO. Eu realmente não sabia nada sobre essa doença. Ao longo da minha vida, o que grudou na minha mente que nem chiclete é que depressão é estar sempre triste e com pensamentos suicidas. Eu sei que já tinha ouvido e lido mais coisas, porém elas não grudaram que nem chiclete. Eu não conseguia me lembrar dos outros sintomas da depressão, como a insônia, sonolência, diminuição ou aumento do apetite, raciocínio lento, falhas de memória, irritabilidade, entre tantos outros. Agora eu entendo por que durante um longo período as refeições sempre atrasavam aqui em casa. Eu acreditava que era por causa da minha desorganização. Quando eu chorava sem motivo aparente, pensava que era devido a TPM. Chega a ser cômico eu não perceber que estava com TPM o mês inteiro! Como eu nunca havia sentido vontade de me matar, eu conclui que estava estressada devido às circunstâncias da vida, e que as coisas melhorariam, contanto que eu tivesse PACIÊNCIA e AGUENTASSE FIRME, só mais um pouco. Somente quando meu corpo e minha mente se desligaram, literalmente pifaram, que eu tive a oportunidade e descobri que aquilo não ia passar com o tempo. Pelo contrário, estava piorando com o tempo. Por tudo isso e por muitas coisas não ditas, esse setembro tá mais amarelo para mim, porque nos outros setembros eu não prestava atenção nos inúmeros alertas sobre essa doença.
Mesmo assim, esse SETEMBRO é especial para mim, só por que agora eu sei. Ou melhor dizendo, agora eu sei um pouco mais. Ainda tenho muito que aprender mas eu sinto um pouco mais, eu enxergo um pouco mais, eu cheiro um pouco mais e eu como…um pouco menos! Meus bons hábitos alimentares estão retornando aos poucos, assim como as risadas, o brilho no olhar, a leitura, a escrita, a criatividade, as faxinas, as caminhadas, o sono tranquilo e o autocuidado.