Refletindo a Imagem

Não é à toa que o nosso relacionamento com Deus tem tanta coisa em comum com o casamento. Deus criou a sexualidade para se revelar a nós, revelar quem ele é, e nos transmitir verdades sobre sua natureza que seria de difícil compreensão. Em algum momento da leitura do último texto, “Nossa linda história de amor”, você deve ter ficado surpresa ao perceber que eu não estava falando do meu relacionamento com meu esposo. Por toda a Bíblia, Deus usa metáforas, leis da natureza e aspectos da vida cotidiana para se comunicar com o seu povo.

Mistério profundo

Efésios 5, de 22 a 33, apresenta a relação entre Cristo e a igreja como um mistério profundo, um padrão a ser seguido, e também, como um espelho para cada casal que se forma. A imagem perfeita e imutável de Cristo e a igreja aponta para a eternidade. Enquanto vivemos na terra, Deus nos prepara e nos santifica para este dia glorioso através do casamento, do processo contínuo de se tornar uma só carne.

Imagem distorcida

Alguns anos atrás, eu perguntei a Deus se havia alguma coisa na minha vida que precisava mudar. De todo o meu coração, pedi que ele me mostrasse. Deus não hesitou: “Você ama mais ao Orivaldo do que a mim.” Orivaldo, pra quem não sabe, é o meu esposo. Respondi prontamente: “Como assim? Eu sempre achei que te amava mais do que a ele.” Aquilo era novidade, então, pedi que Deus me explicasse melhor e ele prosseguiu: “Você tem medo de magoá-lo, mas não tem medo de me magoar.” Essa palavra cortou meu coração. Eu nunca tinha percebido isso. Ele continuou: “Você não se importa comigo. Não se importa com os meus planos para a sua vida. Você acredita que eles são problema meu, e não seu.” Ui, essa doeu! Deus prosseguiu: “Quem é a pessoa que você mais ama na vida?”. Após uma reflexão sobre minhas escolhas, meus sonhos e anseios, sobre onde eu estava gastando meu tempo, dinheiro e afeições, respondi honestamente: “Orivaldo. Eu o desejo intensamente. Eu não me importo contigo, Deus.” Em outras palavras, só me apegava a Deus quando era conveniente.

Amor pactual

Eu havia desenvolvido uma relação de troca com Deus nos anos anteriores, sem me dar conta. Minha mentalidade era a seguinte: se eu fizer tudo direitinho e obedecer a palavra de Deus ao máximo, ele vai me dar tudo o que eu preciso e desejo. Deus não se atreveria a me deixar na mão se eu fosse fiel. Essa era uma expectativa que nunca havia sido verbalizada. Uma expectativa vívida mas oculta. Na maior parte da minha vida, eu me considerei uma pessoa fiel e comprometida com Deus, que o amava profundamente. Porém, assim como Deus havia provado o povo de Israel no deserto por quarenta anos, para saber o que havia no coração deles, Deus também me fez passar por sofrimentos extremos e contínuos, para mostrar o que havia no meu coração (Deuteronômio 8), e me revelar um caminho mais excelente do que essa relação de troca, toma-cá-dá-lá. Quando os conflitos aparecem em um relacionamento, quando não temos aquilo que tanto precisamos e desejamos, a nossa fidelidade é posta à prova. Enquanto tudo está acontecendo de acordo com a expectativa das duas partes envolvidas, não há motivo para se sentir tentado a abandonar a Deus ou ao cônjuge. O teste de amor e fidelidade vem nos momentos de profunda privação, que, às vezes, podem ser bem longos e intensos. E são nesses momentos que descobrimos onde está o nosso coração.

Ao longo desta franca conversa com Deus, me lembrei das coisas que estava abrindo mão para poder caminhar ao lado do meu esposo, e de tudo que eu sacrificava para fazê-lo feliz. Eu admiti que não queria pagar o preço para agradar a Deus porque ele me amava independente das minhas escolhas. Baseada em uma narrativa incompleta da Bíblia, eu mantive essa postura por anos no meu relacionamento com Deus, sem saber, e no meu casamento também. Ela é a mesma postura que a maioria dos casais mantêm hoje: uma relação de troca ou de contrato. Enquanto as duas partes estão satisfeitas e felizes, continuamos casados. Se um de nós ficar insatisfeito, a gente se separa a fim de interromper o sofrimento e perseguir a felicidade pessoal. Entretanto, Deus planejou a união de um homem com uma mulher em um contexto de entrega mútua e total de vida, para compreendermos e testemunharmos a paixão que Cristo sente por sua Igreja, o quanto ele tem ciúmes de nós, e o compromisso de amor pactual que ele tem conosco, isto é, amor que não depende das circunstâncias. Amor de aliança inquebrável.

Restaurando a imagem

Depois de anos de sofrimentos múltiplos, me decepcionei com Deus. Mesmo assim, eu queria ficar com ele de qualquer jeito, escolhendo quais partes da Bíblia obedeceria, e quais ignoraria. Não é isso que fazemos no casamento também? Deus, em sua infinita sabedoria e amor, usou o meu relacionamento conjugal para me repreender e atrair o meu olhar de volta para a imagem perfeita e imutável de Cristo e a igreja. Ele tem me ensinado a amá-lo mais profundamente, mais do que eu amava ao meu esposo. Segundo Efésios 5, o marido é a figura de Cristo. Orivaldo, meu marido, nunca será perfeito. Entretanto, ele tem sido um instrumento para expressar o amor de Deus por mim, através das inúmeras vezes que ele se sacrificou e me perdoou. Pela forma como ele me deseja, me seduz e me satisfaz. Vejo o amor de Deus todos os dias quando ele me repreende, me orienta, me sustenta e me protege. E a lista de experiências que tenho com Deus através do meu marido é muito longa! Deus também se revela ao Orivaldo e ao mundo através do meu papel de esposa, quando correspondo às iniciativas dele, o auxilio e me submeto a ele.

Não é opcional

Tenho aprendido a amar a Deus desde a minha infância e, com certeza, preciso continuar aprendendo. Mas existe um aspecto da intimidade com Deus que muitas vezes negligenciamos: a obediência (João 14:21). No livro de 1Samuel, no capítulo 15, encontramos a história do rei Saul, um homem que tentou barganhar com Deus, trocando a obediência e a submissão dele a Deus, por sacrifícios e rituais em nome de Deus. Mas a obediência não é opcional. É verdade que “Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.” (2 Timóteo 2:13). Jesus, porém, não deseja ser apenas o nosso Salvador; mas, Senhor de nossas vidas! De cada parte dela, incluindo da nossa sexualidade e da forma como vivenciamos o sexo, o casamento e a vida de solteiro. Temos a escolha diária diante de nós: vamos continuar no controle de nossas vidas ou vamos obedecer a Palavra dele? Vamos confessar nossos pecados e buscar a santidade que o agrada e nos protege, ou vamos viver nos padrões sexuais da sociedade? Você vai amar a sua esposa como Cristo amou a igreja ou vai ignorá-la e seguir seus projetos egoístas? Você vai aprender a se submeter ao seu marido ou vai agir como se fosse uma mulher solteira?

Quando aceitamos o chamado de refletir Cristo e a igreja em nosso casamento, aceitamos o chamado para sermos transformados. Deus nos transforma através do sexo conjugal e da união de vida. Por isso o sexo é sagrado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

%d blogueiros gostam disto: